VIRGO, VOLANTE DE ALUGUEL - VOL. 3



Por Brega Presley



A porta lateral começou a abrir raspando o metal contra o apoio.

Do outro lado, um segurança dos Cacheiros segurava um par de algemas, aparentemente destinados à Flávia, a ex-ocupante do porta-malas, e era melhor nem pensar para onde ela seria levada depois o que seria feito dela.


O segurança olhou por um instante para a garota em pé, um tanto surpreso. Mais surpreso ainda ele ficou com a azeitona que abriu uma cratera do tamanho de um polegar em sua testa, logo depois. Ele morreu antes mesmo do som do disparo chegar a ser processado pelo seu "agora em um estado lastimável" cérebro.

Depois de arejar as ideias do bandido, Virgo tinha um problema pela frente: Sair dali nos próximos 30 segundos, antes da equipe de segurança dos Cacheiros (armados até os dentes) ou dos Cachaceiros (funcionários da Usina de Álcool geneticamente alterado) terem tempo de se mover e tomar a dianteira.

Virgo pegou as chaves de um furgão que parecia em bom estado, enquanto Flávia enviava um pano no tanque aberto de um dos carros, deixando um pouco do tecido para fora. Quando Virgo acionou o carro e abriu a porta do passageiro, Flavia simplesmente acendeu o pano com um "zipo" e saltou para o banco do carona, enquanto o carro acelerava.

A cabeçada que deu em Virgo foi um pouco descuido, e um pouco provocada. E a piloto pareceu se importar muito pouco com isso. Arrebentando o portão da garagem e uma das grades protetoras, dispararam para o deserto ainda sombrio, na esperança das sombras as protegerem.


Um ruido de explosão confirmou que haveriam menos veículos disponíveis para a perseguição, mas certamente algum ainda daria problemas.

Flávia pulou para a traseira, a primeira vez em um bom tempo que ficava ali por vontade própria e começou a procurar o que poderia usar. O que elas tinham de combustível, pelo que a moça tinha dito, seria o suficiente para chegarem a algum lugar longe dali, mas não poderia ser usado como arma.

A pistola de Virgo seria de alguma utilidade, mas não contra um veiculo blindado dos Cacheiros. Eles sabiam se cuidar, era um fato. Elas então tinham dois problemas: Chegar na Máquina. E fazer isso sem testemunhas. O que levava a uma inconveniente dificuldade, que basicamente poderia ser definida em "Como caralios fazer isso?".

Virgo listou, mentalmente, os pontos negativos. Um bando de filhos de uma mãe armados até os dentes, um satélite maluco pronto para sobrevoar a região em meia hora (e isso se aqueles malditos hackers não fossem só mais um bando de patetas paranoicos). E, claro, o maldito sertão. O mar sem fim de areia e calor que engolia vidas como se fosse um pântano.


Pontos positivos: A garota ao lado não era estúpida. E estava gritando sobre ter encontrado algo. A voz dela parecia dar estranhos saltos no peito de Virgo. Caramba, Virgo, jura? Paixonite instantânea em uma hora dessas? Fora isso, ela era uma volante excepcionalmente competente, e improvisava bem. Bom, os dados estavam lançados. Hora do show.

Um furgão branco se aproximou a grande velocidade vindo por trás. Era um tipo de veículo de caça, o que significava pouca blindagem mas considerável poder ofensivo. Virgo jogou o seu carro para o lado no momento que uma saraivada de balas vazou a areia fofa pela direita. Virgo jogou o veículo rapidamente para a esquerda enquanto uma nova rajada passou zunindo pela esquerda.

Se o armeiro do carro de caça estivesse com um mínimo de noção do que fazia, a próxima saraivada seria em curva. Menos dano, mas uma área maior atingida. E este seria o fim. Virgo freiou com tudo e sentiu a pancada na traseira com força.

A vantagem de uma colisão assim é que os danos frontais de um veiculo vão em boa parte para o bloco do motor, enquanto que a traseira, mesmo detonada (e com um eixo torto) não chega a perder potência de fato.

A desvantagem é ter de aprender uma porção de palavões novos da carona. Mon Dieu, que boca suja. Isso ia ser interessante!

Conforme ganhou distância do perseguidor, o suficiente para o armeiro, agora recuperado, não conseguir mais acertar um tiro, e, em poucos minutos, Virgo entrou com o furgão no leito seco do rio. As pedras ali impediriam que o rastro fosse seguido, e poderiam andar a pé para longe do veículo abandonado.


Flávia mostrou o que tinha encontrado: Uma capa térmica, que permitiria que ficassem escondidas um dia ou dois com os mantimentos de emergência do furgão, cobertas e sem serem espiadas por algum satélite bisbilhoteiro. Nem mesmo os voyers dos Cacheiros perderiam tempo demais com um roubo pé de chinelo de combustível.

A tempestade estava chegando, afinal, eles teriam outros problemas quando o período conturbado se iniciasse.

Virgo carregou o combustível, mantimentos e a manta até uma encosta fofa e se jogou de costas, puxando a coberta para cima de si mesma. ela não era lá muito grande, mas Flávia não precisava ficar assim tão perto, quando entrou junto.

Definitivamente, a espera seria interessante.


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